A Lomba Da Poesia
É como uma brincadeira semiótica, uma malandragem semântica, uma punhetagem poética. Por isso mesmo, é um barato. “Poesia de lombada” - ou “spine poetry”, no original, em inglês – consiste simplesmente em colocar as lombadas dos livros em sequência, de forma que seus títulos escrevam um verso.
A ideia original, entretanto, não estava ligada diretamente à poesia. Em 1993, a artista californiana Nina Katchadourian, colocou em marcha o “Sorted Books”, em que coletava livros e arranjava seus títulos de modo a formar uma frase – não necessariamente uma poesia -, e então os fotografava. O projeto segue galopante, em perpétuo andamento, e atualmente reúne mais de 130 imagens. Vinte anos depois, em março do ano passado, a Chronicle Books reuniu boa parte delas num livro homônimo ao projeto, com prefácio do escritor e editor da Cabinet Magazine, Brian Dillon, quem já as classificava como “poesias visuais”.
Por Nina Katchadourian - A Day at the Beach - 2001
Mas foi a escritora búlgara, radicada em Nova York, Maria Popova, quem melhor traduziu a ideia de Katchadourian para a poesia, migrando da frase para o verso numa micro-postagem em seu ótimo BrainPickings.org. É claro que o ensejo original de Nina já pressupunha uma leitura poética da sequência dada pelo autor-coletor, ainda assim, a intervenção de Popova com seus volumes nomeados “Book Spine Poetry”, e a vasta audiência de seu blog, foram responsáveis pela viralização do método, que acabou se tornando uma febre, especialmente nos Estados Unidos, e mais freneticamente durante o mês de Abril, quando se comemora o “National Poetry Month”, evento encabeçado desde 1996 pela Academy of American Poets.
Por Maria Popova - Book Spine Poetry Vol. 1: The Future
O impulso de Popova deu origem a uma enormidade de listas e concursos de “poesia de lombada”, os quais desembarcaram também por aqui, em terras leminskianas, barreanas, gullarianas, kolodyanas. Até a Rocco gostou desse lance e, na semana passada, lançou um pequeno concurso via Instagram. A única regra era que o verso deveria conter ao menos dois títulos da editora. No sábado, dia 07, foi divulgado o resultado. Mesmo escritores como Sérgio Rodrigues – infelizmente, também colunista da Veja – já tentaram um versinho:
É claro que, para encerrar este texto, eu não poderia deixar de investigar os títulos de minha modesta biblioteca, garimpando com a ponta dos dedos aqueles que se encaixam, ou ao menos conversam. Assim, pari minhas caçulas poesias de lombada, as quais nomeei carinhosamente de “Lombadeira”.
Antologia SOMA de 79 + Gillian McCain / Legs McNeil
Buk + Toninho Vaz + Richard Farina
Estrela Leminski + Mateus Novaes + Paulo César de Carvalho + Caio Carmacho + Quintana + Nick Hornby