A importância do ócio
No senso comum, circula um ditado: "o ócio é o pai de todos os vícios". Talvez, ao longo dos séculos, por questões de conveniência, ócio e vagabundagem tenham se aproximado.
Mas, se voltarmos à Grécia antiga, veremos que o ócio era vislumbrado como elemento fundamental à produção das artes e do pensamento filosófico.
Contemporaneamente, alguns pensadores tentam retomar esta noção grega. Dois deles: Bertrand Russel, em 1935, publicou o fabuloso ensaio "Elogio ao ócio", no qual assevera que é preciso saltar do senso comum para enfrentar a sociedade industrial. Apenas assim seríamos capazes de produzir algo verdadeiramente valioso. O sociólogo italiano Domenico De Masi criou o conceito de "ócio criativo". Para ele, longe de ser negativo, o ócio é fundamental à criatividade.
Contudo, mesmo com tais contrapontos, prevalece a visão pejorativa sobre o ócio. Não por acaso governos autoritários valorizam excessivamente o trabalho. "O trabalho liberta" era a frase soldada na entrada dos campos de concentração nazista, inclusive em Auschwitz. Há pouco tempo foi massivamente veiculada no Brasil a expressão cunhada pelo governo Temer "Não pense em crise, trabalhe".
Novamente há uma confusão: a negação do ócio é o negócio. Trabalho e negócio não são sinônimos. Trabalho é criação, negócio é reprodução. Trabalho e ócio são complementares e, em muitos aspectos, coincidem. O que tais regimes querem é que o homem seja negócio e não que trabalhe. Porque quanto mais trabalho, mais ócio, mais criação, mais liberdade. E isso, obviamente, não é profícuo à manutenção do sistema.