Jeca Tatu, Biotônico Fontoura e Publicidade
Publicidade do Biotônico Fontoura presente no livreto Jeca Tatuzinho
Foi com tal espírito inquieto diante da realidade que em 1918 ele publicou o livro Urupês, no qual apresenta outro personagem que faz parte do nosso repertório de figuras populares: o Jeca Tatu. Indignado com o fato de não conseguir por em prática na sua própria fazenda as ideias que possuía em relação à modernização da lavoura, ele fez um retrato do típico habitante do meio rural como sendo um homem preguiçoso, desprovido de ambição e sem ânimo.
Contudo, sempre preocupado com questões que envolviam o desenvolvimento nacional, Lobato tomou contato com as pesquisas do Instituto Oswaldo Cruz. Tais pesquisas comprovavam o abandono do interior do país e a disseminação de inúmeras doenças, entre elas a Malária e o Amarelão, que apresentavam como sintomas a falta de ânimo e o cansaço.
Ilustração do livreto Jeca Tatuzinho
Assim, fazendo um mea culpa histórico, Monteiro Lobato revê sua concepção sobre o caboclo, chegando à conclusão de que “O Jeca não é assim. Está assim.” e, a partir daí, passa a ser um dos maiores estimuladores das campanhas a favor do saneamento.
Com o intuito de afirmar ainda mais seu posicionamento, o escritor se une a um amigo farmacêutico chamado Cândido Fontoura que em 1910 havia inventado um dos medicamentos de maior sucesso na história do nosso país: O Biotônico Fontoura.
Aproveitando a crescente fama do medicamento, Lobato criou um almanaque que ficou popularmente conhecido como ‘Almanaque Fontoura’. O livreto era distribuído gratuitamente em farmácias e continha noções de higiene e saneamento, historinhas e atividades recreativas para crianças e, é claro, publicidade a favor do medicamento.
Voltado principalmente para o público infantil, foi através do personagem Jeca Tatuzinho que o almanaque conseguiu o feito de em 1982 alcançar a marca dos 100 milhões de exemplares distribuídos, tornando-se assim a peça publicitária de maior sucesso no Brasil.
Infectado com Amarelão ou não, o Jeca Tatu sobreviveu. Imortalizado no cinema em 1959 por Amácio Mazzaropi, ele é ainda hoje um dos personagens mais representativos da cultura popular brasileira.