Instagram à moda antiga
Com mais de 150 milhões de utilizadores em todo o mundo, o aplicativo para celulares Instagram tem funcionamento relativamente simples. Aplica filtros e efeitos nas fotografias digitais de modo que elas pareçam ter sido registradas em câmeras antigas, como as analógicas Holga, Polaroid Land e Lomo LC-A. O próximo passo, como quase tudo na web 2.0, é compartilhar, curtir, comentar.
Mas ainda hoje há quem prefira fazer tudo à moda antiga, mesmo que o passatempo torne-se trabalhoso e custe algum dinheiro. Para entender a diferença, basta observar a quantidade de máquinas analógicas mantidas pelo designer e fotógrafo Damião Santana. Ao invés de filtros digitais, ele se vale de equipamentos antigos, filmes com a data de validade vencida e, principalmente, criatividade no olhar.
Se alguém o acusa de estar na contramão da tecnologia, ele se declara culpado. Quer mesmo é fazer de conta que está na década de 1970, experimentar, fugir do bombardeio de tecnologia. “Para quem lida com criação, esta é uma boa maneira de se inspirar, ou até de diferenciar o próprio trabalho”, sugere.
Como quem defende um antepassado, Damião é enfático ao minimizar as desvantagens da fotografia analógica e valorizar os pontos positivos. Obviamente há a demora para visualizar o resultado do clique, pois é preciso submeter o filme ao processo de revelação. Outro detalhe é o custo adicional por cada pose mal feita, olho fechado ou perda do foco. Mas pouco importa para o designer. “Ao revelar um filme, surgem muitas possibilidades, que estão fora do alcance da fotografia digital”, diz.
Uma das dificuldades encontradas pelo fotógrafo é achar filmes à venda. O jeito é encomendar pela internet, ou utilizar seu estoque de películas vencidas. “Tenho uma caixa cheia de filmes for a da validade que um colega encontrou no meio da rua e me deu. Alguns têm alterações, mas a maioria funciona bem. Como o resultado que espero deles não é realista, então servem. Estou atrás da experimentação”.
Entre as muitas máquinas analógicas da coleção de Damião Santana, uma pode ser considerada “celebridade”, a Lomo LC-A. O equipamento foi a fonte de inspiração para um movimento surgido na década de 1990 e que pode ser considerado precursor do Instagram: a lomografia.
Segundo ele, o modelo de câmera era fabricado por uma empresa estatal russa e vendido a preços populares, uma vez que havia sido encomendada aos milhares pelo regime comunista da Rússia. O objetivo, conta Damião, era registrar o bem estar da população, em uma espécie de imitação do “american way of life”.
Nesta época, um grupo de amigos de Viena, na Áustria, comprou a câmera durante um passeio pela Europa e começou a tirar fotos diferentes, revelando cromos especiais em processos de revelação comuns, o que supersaturava as cores das imagens. “Isso coincidiu com o momento que a internet estava começando, então foi um material que se espalhou muito rápido pela web”, diz Damião.
* Texto concebido originalmente para o site do jornal Diario de Pernambuco