O "achamento" do Brasil: invenção para legitimar a conquista portuguesa
A expansão portuguesa, segundo o historiador Luís Filipe
Thomaz, foi uma resposta à crise do século XIV naquele país, que via no
ultramar a possibilidade de recompor suas rendas e estender seus domínios. “A
ação do Estado português, dirigido por uma jovem dinastia, estruturou-se no
sentido de afirmar-se diante do cerco de um vizinho poderoso – Castela –, de drenar
para o exterior os conflitos externos e ao mesmo tempo garantir rendas que o
sustentassem e lhe dessem capacidade de continuar a distribuir privilégios
entre a aristocracia”. (OLIVEIRA e CAVALCANTE,
2011, p.17). Nesse contexto, enquanto a
nobreza buscava sobreviver, a burguesia estava interessada em ascender socialmente,
em um processo de aristocratização.
Foi a partir do século XVII que surgiu a ideia do “achamento” do Brasil por puro acaso, tal qual uma conspiração divina, cujo objetivo era criar uma atmosfera sagrada em torno da presença portuguesa na América do Sul. Conforme explica Sérgio Buarque de Holanda o objetivo dessa versão fantasiosa era legitimar a conquista portuguesa, como se as monarquias católicas europeias fossem restabelecer o elo entre as terras brasileiras e a “verdadeira fé”. Na realidade, a chegada portuguesa ao Brasil tratava-se de uma estratégia para proteger do avanço espanhol as rotas comerciais que margeavam a costa atlântica africana e conduziam ao Oriente. A intenção era estruturar e garantir a manutenção do império português.
Na avaliação do professor Thiago Krause, a viagem portuguesa que culminou no “achamento” do Brasil teve muito pouca relevância. Segundo ele, o império português da época dependia do controle marítimo. Essa aproximação das terras brasileiras, portanto, não foi algo inevitável, mas fruto de um plano coordenado, de elementos estruturados ligados ao reino português. “Portugal não tinha como expandir para dentro, em relação à Europa, então uma maneira de resistir à ameaça de anexação castelhana, é feita uma expansão marítima preventiva. (...) A viagem de Cabral começa a lançar as bases do império ocidental, que é talassocrático, comercial, marítimo, em que se usa a violência para controlar as rotas marítimas. (...) O império não era uma estrutura monolítica, e sim uma rede de relações com instituições formais e com a participação de particulares. Nesse império, misturam-se comércio, política e religião”. (KRAUSE, 2020)
REFERÊNCIAS
KRAUSE, Thiago. A Expansão Marítima e o Império Português. Youtube, 2020. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=CpSTwpbcXk. Acesso em 13 de novembro de 2021.
OLIVEIRA, Anderson José M. de, CAVALCANTE, Paulo. Portugal e a expansão comercial. O descobrimento do Brasil. IN História do Brasil I. v. 1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2011.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.
THOMAZ, Luís Felipe. De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1998.