“Ninguém te permite ser tu mismo” Osho
Osho tinha um cabelo muito comprido quando era criança. Cada vez que entrava em sua casa passava pela loja do seu pai e as pessoas lhe perguntavam se ele tinha uma filha, uma menina. A frustração do pai era tal que a história quase teve um fim a là Policarpo Quaresma, que Osho conta da seguinte maneira:
“Envergonhado e furioso ele veio e cortou meu cabelo com suas próprias mãos. Eu não disse nenhuma palavra. Ele ficou surpreso. Ele me perguntou: você não vai dizer nada, e eu respondi: vou dizer do meu próprio jeito. Então fui em um barbeiro que tinha uma tenda justo na frente da minha casa, eu amava aquele homem e ele me amava. Ele me falava como o grupo dos viciados em ópio, como ele, iriam tomar o governo da Índia. Disse-lhe: corte completamente o meu cabelo. Na Índia somente se corta completamente o cabelo quando o seu pai morre. Por um momento até mesmo aquele viciado em ópio recuperou o sentido e pediu: O que aconteceu, o seu pai morreu? Eu respondi: não interessa, não te preocupe comigo, simplesmente faça o que eu digo, não é assunto seu, somente corte meu cabelo completamente. Ele me disse: feito. Eu então voltei a minha casa e passei pela loja do meu pai. Ele me olhou e todos seus clientes me olharam: Quem é esse menino, seu pai morreu! Em todos os lugares que eu ia me perguntavam: o que aconteceu, ele parecia tão jovem, tão saudável. Eu respondia: as pessoas morrem com qualquer idade. Essa foi a última coisa que o meu pai fez comigo porque ele sabia que a resposta poderia ser mais perigosa. Ninguém te permite ser simplesmente você mesmo”.
Não por nada, mas Osho tem razão. Especialmente porque os pais modelam minis eles mesmos. O cabelo, a roupa, a marca da roupa, os amigos pré-selecionados, a escola, os cursinhos. O melhor, ou o que eles pensam que é o melhor.
Está todo mundo super ocupado, eu sei, para perguntar para a criança o que ela quer vestir, como quer cortar o cabelo - se quer cortar o cabelo - se quer ter estilo rock, skate, surf, playboy ou estilo nenhum. Possivelmente ele escolheria uma camiseta azul, uma bermuda verde, um tênis amarelo, um boné vermelho e está tudo bem. Ou quiçá vai usar uma camiseta favorita todos os dias, o verão todo, do avesso, está tudo bem também.
Mas não termina aí, com os pais. Esse é só o começo. Depois dos pais vêm os outros. Os outros, o mundo inteiro, a vida toda.
Despeço-me com Raul Seixas - que tem bastante claro o seu nível de preocupação com a opinião alheia: “Ninguém tem o direito de me julgar a não ser eu mesmo. Eu me pertenço e de mim faço o que bem entender”.