“But I still have to face the hours, the hours after the party…”
Estava hoje ouvindo uma de minhas canções favoritas de Dave Matthew’s Band, #41, e há um certo trecho que sempre me nocauteia por sua beleza e tristeza: I used to sing for all the loneliness that nobody notices now. E me ocorreu que, hoje em dia, a solidão não é apenas ignorada – ela tornou-se a nova fobia moderna.
Todos conhecemos alguém que não consegue estar desconectado. Celular, smartphone, tablet, chats, e-mails, notebook – o sonho de abolir a solidão parece mais realizável que nunca. Há quem não consiga aproveitar uma refeição se não compartilhá-la com toda sua lista de amigos; se não publicar fotos da viagem, é como se ela não tivesse acontecido; qualquer mínimo acontecimento do dia precisa ser divulgado, dividido, exposto, analisado, até que nada esteja longe do olhar coletivo, destrinchado em dezenas de comentários – uma verdadeira necropsia pública do banal.
Mas por que esta necessidade de compartilhar tudo, o tempo todo? Por que esta ânsia desenfreada de estar ligado a alguém – mesmo que este alguém seja abstrato e indeterminado, resumindo-se numa curtida ou num comentário desimportante? Saber-se feliz já não é o bastante, é preciso a legitimação de toda a longa lista de ilustres desconhecidos do Facebook. Sentir é apenas um evento a ser compartilhado com seus milhares de amigos (amigos?), pois sem eles não teria sentido nem razão – seria um sentimento sem propósito. O propósito agora é ditado por quantas pessoas “se importam” – e este importar-se é tão oco e vazio que não resistiria a um olhar mais atento e cuidadoso.
Pois esta é uma curiosa farsa coletiva. Estamos todos cientes da fragilidade destes laços eventuais e insípidos, e sabemos que não podemos exigir mais que aquele contato virtual superficial; ainda assim, movemos nossa vida ao redor disso, procurando não pensar muito no quão vazias são nossas colunas de sustentação (“Não pensar muito” é um bom mantra – pois há muito tempo você decidiu que o melhor mantra é aquele que lhe permite dormir bem à noite).
Sabemo-nos sós, mesmo com centenas de amigos virtuais, mesmo com milhares de curtidas e comentários. A solidão, como uma mosca desagradável, nos sobrevoa e zumbe sua cantiga monótona e vazia em nossos ouvidos – e por mais que a afugentemos, ela nunca está longe.
Bauman discorre sobre isso: “Preferimos investir nossas esperanças em “redes” em vez de parcerias, esperando que em uma rede sempre haja celulares disponíveis para enviar e receber mensagens de lealdade. Esperamos compensar a falta de qualidade com a quantidade. (...) Os rastros deixados por essa busca por segurança parecem, contudo, um cemitério de esperanças destruídas e expectativas frustradas, e o caminho à frente está salpicado de relacionamentos frágeis e superficiais. O chão não está mais firme à medida que caminhamos; parece mais lodoso e inadequado para nos assentarmos sobre ele. Estimula os caminhantes a correr, e os corredores a aumentar sua velocidade.”.
Assim, por mais que desviemos o olhar, os olhos imensos e estáticos da solidão estão pousados sobre nós. Não importa o quão longa seja a festa, ela terá um fim. Não importa quantos amigos haja no chat, uma hora você terá que desligar. Ainda que todos curtam sua foto do jantar, ainda será sua boca solitária a mastigá-lo lenta e dolorosamente.
...But I still have to face the hours, dont I? The hours after the party, and the hours after that…