# Com a poesia toda nas mãos
Les Coiffeuses, Robert Doisneau (Todos os direitos reservados)
A ensaista e escritora Susan Sontag escreveu no seu discurso de aceitação do prémio Jerusalém-(1) ( A Consciência das Palavras): " Preocupamo-nos com as palavras , nós escritores. As palavras têm significado. As palavras apontam. São setas espetadas na pele dura da realidade. (...)a maior parte das pessoas quer dizer com "paz" é vitória. A vitória do seu lado. "
Um dos maiores poetas portugueses cuja obra será sempre eterna e bela chama-se Ruy Belo. Em dia internacional da poesia, com a Primavera em nós, com a esperança toda que os poetas nos dão, com a capacidade de ver para além da linearidade da nossa curva nos dias, trago este poema nas mãos : "O tempo das suaves raparigas é junto ao mar ao longo da avenida ao sol dos solitários dias de dezembro Tudo ali pára como nas fotografias É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar És tu surges de branco pela rua antigamente noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher (...)(2)
E Borges? O grande Borges de pés descalços na areia, trazendo-nos, livre, o Poema? "Ni la intimidad de tu frente clara como una fiesta ni la costumbre de tu cuerpo, aún misterioso y tácito y de niña, ni la sucesión de tu vida asumiendo palabras o silencios serán favor tan misterioso como el mirar tu sueño implicado en la vigilia de mis brazos. " in Amorosa anticipación (JLBorges)
E a música ? mesmo sem poema , é toda ela metáfora, o mundo, para quem a escuta ? Ora escutem Rodrigo Leão em "Imortal"
Como escreveu Ruy Belo "Sabemos agora em que medida merecemos a vida".
(1)Susan Sontag, Ao mesmo tempo, Quetzal, 2011 (2) Ruy Belo , O tempo das suaves raparigas, Assírio & Alvim, 2010 (3) Rodrigo Leão, Imortal, 2008