A Invulnerável Fragilidade de Elliot Smith
O Americano de Portland lançou em 1994, o seu primeiro disco, “Roman Candle”. O primeiro dos cinco belos álbuns recheados de texturas melancolicamente poéticas baseada em sua voz - inconfundivelmente frágil - e seu violão sussurrante.
Em 1997, lançou uma de suas grandes obras prima. O soturno Either Or. E no mesmo ano concorreria ao Oscar - como melhor canção a música Mss Misery - no filme Gênio Indomável.
Either Or possui toda a gama de camadas folks de Elliot em um só álbum. Minimalista, desconsolado. Onde o compositor mostrou que precisava de pouco para emocionar. Como "Speed Trids" que adentra-nos com seu violão constante e o poeta cantando em tom sublimemente grave quase como se fosse um grande segredo que poucos podem saber, confessa: "Estou correndo distancias permanecendo parado. Correndo distancias permanecendo parado". Em "Alameda" ouvimos ao longe uma pequena vocalização uivante e Elliot falando sobre alguém - que através dos seus próprios erros - partiu o seu próprio coração. A beleza dos dedilhados se mistura ao ambiente cortante da voz: "ninguém partiu o teu coração você o próprio partiu" já em "Between The Bars" um violão saído do limbo mais assustador de algum poeta arrebata-nos pela carga de melancolia delicadamente bem dosada e Elliot nos convidando: "Beba comigo agora e esqueça toda a pressão do dia". Síntese de toda a sinceridade melódica deste gênio - que ainda confessa: "beba mais uma vez e eu vou te fazer minha e a manterei profundamente no meu coração". Uma das grandes pérolas de toda a sua discografia
O álbum vai avançando e Elliot canta dispersamente dentro de profundidades agonizantes. Em "No Name #5" o violão - indiscutivelmente Elliotiano - rasga-se de tristezas e memórias dilacerantes. É como diz o trovador "tive um segundo só com a chance que deixei passar e no fim tudo se foi...".
Certo equilíbrio interior é momentaneamente restaurado em "Rose Parade". As frases de violão são cúmplices de um Elliot que machuca pela sinceridade visceral de sua voz, cordas e versos: “... e quando limparem as ruas eu serei o único lixo deixado para trás". Já Angeles é sem duvida uma das grandes canções da década de 90. Os dedilhados de violão parecem sair do âmago de toda a profundidade do mundo e Elliot canta de forma confessional sobre o anjo que cada um de nós tenta encontrar como consolo e ouvinte de nossa alma.
Either Or vai encerrando sua jornada como um álbum perfeito para instantes introspectivamente frágeis, detalhes sendo consumidos e corações sendo escavados e rasgados como feridas expostas pela noite e memórias como: "Rachaduras ocultas que não se revelam, mas que constantemente se alargam". Em "Say Yes", Elliot guarda certo silêncio - e com calma - vai nos entregado sua última pérola. Entre um violão apaixonante e uma melodia feita de nuvens embaladas pela voz que hoje deve estar ao lado de Jeff Buckley, Nick Drake e Renato Russo num lugar sublime, assim como sua musica. "Fui mandado embora e nunca mais retornarei". Só em nossas almas como que: "Procurando pelos braços de alguém para mandar para longe as feridas do passado". Esse é o eterno Elliot Smith.
“Anjos, me respondam, Vocês estarão por perto se a chuva cair?”